Entrevista com o guitarrista BJ, da banda SOTO

Entrevista e edição por Gustavo Franchini

Foto: Yiannis Dolas

O guitarrista, vocalista e tecladista BJ (Tempestt, Danger Angel, Talisman), integrante da SOTO, do exímio vocalista Jeff Scott Soto (Sons of Apollo, Trans-Syberian-Orchestra, ex-Yngwie Malmsteen, dentre outros), fala com exclusividade para o Universo do Rock. A banda, que apresenta um feeling moderno, por vezes progressiva e com nuances de hard rock enraizadas em sua estrutura, fará uma passagem por terras brasileiras em sua mais recente turnê, que promoverá o álbum Origami, previsto para ser lançado em maio desse ano.

Com bastante simpatia, BJ nos conta um pouco sobre sua trajetória na música, a relação com o vocalista (e um de seus ídolos), a sonoridade apresentada no novo álbum, as bandas que costuma ouvir atualmente, além de responder à recente polêmica envolvendo Yngwie Malmsteen e Jeff Scott Soto e até dicas para músicos brasileiros que desejam oportunidades no exterior.

Universo do Rock: Você e o baterista Edu Cominato tiveram a oportunidade de dividir o palco com o lendário vocalista Jeff Scott Soto, ainda na carreira solo, como banda de apoio, em uma história que se iniciou há uns 17 anos. Na época, o Tempestt estava no meio das composições para a futura gravação do álbum de estreia (Bring ‘Em On, lançado em 2007). Você esperava que um dia um simples convite para tocar naquela turnê brasileira pudesse se transformar na banda que são atualmente, com um dos seus ídolos? Conte-nos um pouco dessa trajetória.

BJ: Aquele convite em 2002 foi realmente o começo de tudo. Não imaginávamos que essa parceria iria dar tão certo! Mas foi um caminho muito natural, pois de cara nós tivemos uma “química” enorme, e a admiração mútua fez com que tudo acontecesse. Já estamos tocando juntos como banda desde 2009. Depois de um tempo, decidimos fazer algo novo, não só como a carreira solo do Jeff, mas sim como uma banda nova e identidade sonora mais moderna. Estamos no terceiro álbum e vejo que cada vez mais estamos crescendo, como banda. Quanto a tocar com o Jeff, que sempre foi um ídolo, me sinto muito honrado e só agradeço a confiança que ele tem no meu trabalho. Estamos em sua carreira solo, SOTO e também tenho a honra de tocar com ele no Talisman; juntamente com os incríveis Jamie Borger, Pontus Norgren e Johan Niemann.

Universo do Rock: Em 2016, eu pessoalmente tive o prazer de assistir o SOTO abrindo para o The Winery Dogs e a primeira impressão que me veio à mente foi o surpreendente entrosamento da cozinha, como se vocês já estivessem tocando juntos há décadas. Na sua opinião, a que se deve tamanha sintonia entre os membros da banda?

BJ: Acho que todos esses 10 anos juntos nos deram um entrosamento incrível, além de nos respeitarmos muito no lado criativo. Uma banda precisa bastante disso para ter uma sonoridade marcante. Temos gostos musicais variados na banda, o que ajuda demais em tudo que produzimos. Influências musicais diversas nos permite viajar em diferentes estilos e sonoridades. Isso é demais!

Universo do Rock: O nome da banda possui o sobrenome de Jeff, porém você já ressaltou em alguns momentos que não se trata de uma carreira solo do vocalista, e sim uma banda autoral em que todos contribuem nas músicas. O quão à vontade ele deixou vocês participarem do novo álbum, no sentido do processo de composição como um todo?

BJ: Somos uma “banda”, decidimos e fazemos tudo, todos juntos, como tem que ser. O Jeff é super tranquilo quanto ao processo de criação nos álbuns.


“Quem for nos shows da América do Sul, já terá contato com as músicas do novo álbum, mesmo antes de ser lançado.”


Universo do Rock: Depois dos excelentes álbuns Inside the Vertigo (2015) e DIVAK (2016), o single do mais recente lançamento (Origami, 2019), chamado “BeLie”, mostra uma influência ainda mais clara de metal progressivo moderno, com uma pitada de hard aqui e acolá. Esse é um caminho que a banda seguiu naturalmente?

BJ: Exatamente, essa é a nossa sonoridade, o que nossas referências e influências demonstraram até aqui. Estamos nesse momento agora. Isso pode mudar ou não, vai depender do que estará nos movendo no futuro. Se as bandas não tiverem criatividade sempre, a mesmice iria deixar tudo muito chato. É muito bom surpreender positivamente em cada álbum. Origami vai surpreender muita gente, pode apostar!

Universo do Rock: Há a possibilidade da produção de um material ao vivo, talvez para um CD/DVD, nessa nova turnê na América do Sul, que passa por diversas cidades brasileiras?

BJ: Não nessa turnê, mas pensamos nisso para um futuro próximo. E quem for nos shows da América do Sul, já terá contato com as músicas do novo álbum, mesmo antes de ser lançado.

Universo do Rock: Dentro do cenário de hard rock brasileiro, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral mais recente? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção?

BJ: Confesso que gostaria de ter mais tempo para conhecer bandas novas. Mas tive contato com o material da banda Sinistra, que é o novo projeto dos meus brothers Nando Fernandes e Luis Mariutti, e fiquei de cara… Sensacional!
Quanto as bandas internacionais, ultimamente tenho gostado muito das bandas de hard rock suecas, amo o estilo e as produções. Uma que se destaca para mim é a Perfect Plan. Gosto muito também das nem tão novas Shinedown e do Vintage Trouble. Essa última me surpreendeu de uma forma incrível quando os vi pela primeira vez, na sua apresentação ao vivo, no programa do David Letterman. Animal!

Universo do Rock: BJ, gostaria de saber como você consegue manter a incrível rotina de gravar e tocar/cantar em variadas bandas ao redor do mundo, de SOTO a Danger Angel, no aspecto de ritmo físico e considerando a distância geográfica entre você e os demais integrantes. Você acredita que a internet e tecnologia de modo geral é o que torna tudo isso possível?

BJ: Sem dúvidas! Isso não seria possível em outros tempos. A internet faz tudo isso acontecer. Quanto a conseguir conciliar tudo isso, posso dizer em uma frase: “I’m Livin’ the Life I was Born to live!”. Estou vivendo o que sempre me planejei a fazer! Minha vida foi para o caminho que eu escolhi. Amo ter vários projetos com bandas diferentes, isso só me faz crescer como músico e ser humano.

Universo do Rock: Recentemente, o guitarrista Yngwie Malmsteen gerou polêmica ao postar, em sua conta do Twitter, declarações nada amistosas em relação aos vocalistas que já passaram pela sua carreira, o que inclui o próprio Jeff Scott Soto, que participou de dois álbuns clássicos de Malmsteen nos meados dos anos 80, Rising Force e Marching Out, ambos elogiados pelo público e crítica especializada. Como vocalista, qual é a sua opinião sobre o ocorrido?

BJ: Acho que ele foi muito infeliz nas declarações. Uma das virtudes do ser humano é reconhecer a importância das pessoas, e ainda mais importante é ser grato pelo trabalho delas. Mas acho triste que algo o impede de reconhecer que o sucesso dele também é devido a esses incríveis vocalistas. Acho que sem eles esse sucesso não seria possível, mesmo ele sendo um guitarrista fantástico em seu tempo. Como não reconhecer o trabalho e a importância de Jeff Scott Soto? Joe Lynn Turner? E muitos outros. Achei triste, mesmo.

Universo do Rock: Você é um ótimo exemplo de como um músico com uma atitude positiva, proativo e determinado, além, claro, da qualidade de modo geral como profissional podem gerar frutos e espaço no mercado, em um estilo que aqui no Brasil é tão difícil de se ter reconhecimento, mesmo considerando a quantidade de talentos que temos no país. Qual é a dica que você dá para músicos brasileiros de rock/metal, amadores ou profissionais, que desejam expandir seus horizontes mundo afora?

BJ: Primeiramente, agradeço pelas palavras. É exatamente como você disse na pergunta, tem que ter atitude positiva, ser proativo e acreditar em seu potencial. Não tente achar que alguém está em seu lugar. Você conquistará seu lugar se tiver atitude, trabalhar duro e respeitar o próximo. Estude muito! Eu mesmo estudo bastante, me desenvolvi muito como guitarrista para estar no SOTO. Nada vem de graça, corra atrás, não julgue, faça por onde! No Brasil, a cena ainda não é unida como deveria; aqui música não é mais cultura, e sim entretenimento. Não espere muito do mainstream. O rock é muito forte no mundo. Quem sabe um dia as coisas melhorem pro rock no país. Mas o mais importante é fazer o seu som. Fazer o que se ama, isso move tudo!

Universo do Rock: Em nome da equipe do Universo do Rock, gostaria de lhe agradecer pela oportunidade de nos conceder essa entrevista.

BJ: Eu que agradeço aos amigos do Universo do Rock, sempre um prazer! Vejo vocês nos shows da South America Tour!

Confira as datas da turnê brasileira no pôster oficial do evento:

Mais informações no site oficial, Facebook e Instagram da banda SOTO.

Créditos da foto em destaque e ao lado da citação: Sharp Illusion

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