Entrevista com Dr.Sin, uma das mais tradicionais banda de hard rock do Brasil

Por: Gabriel R.
Colaborou: Adriana Camargo

foto/divulgação
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Beirando os vintes anos de carreira, o Dr. Sin solta no mercado o “Animal”, novo disco que apresenta toda a maturidade acumulada pelos membros da banda. O Hard Rock tradicional continua sendo a base das composições, combinadas com o Progressivo, além de alguns riffs pesados, que por vezes nos remetem à Black Sabbath!

Conversamos com o baterista Ivan Busic sobre o atual momento vivido pela banda, sobre o novo lançamento, bem como sobre alguns fatos relevantes destes últimos anos, como a participação no projeto “Rock Sinfônico”.

UR: Olá Ivan. Primeiramente, parabéns pelo lançamento “Animal”. Já sobre o título do trabalho, é inevitável observar que a banda tem certa tendência a usar alguns títulos sugestivos, vide o “Brutal” (1995) e o “Bravo” (2007). Eu imagino que a idéia é convencer logo de cara. Como vocês chegam a esses títulos?

Ivan Busic: Obrigado. Na época do Brutal estávamos morando em N.Y e lá muita gente usava o termo Brutal. A gente curtiu a idéia porque para nossos ouvidos o CD estava soando Brutal e depois pensamos que o conceito de muitas letras do álbum estavam ligadas a coisas brutais no sentido mais violento das ações do ser humano ou ate mesmo politicamente. No caso do Bravo, foi uma idéia do Edu se não me engano, a idéia era de ter um maestro maluco na capa ou algo assim. Quanto ao Animal foi durante o processo de gravação. Constantemente alguém que vinha visitar e ouvia o som dizia: “Pô, ta animal o som”. São nomes simples e universais. Pode soar um pouco egocêntrico, mas o objetivo nunca foi esse. Sempre aconteceu de alguma forma natural.

UR: Como foi o processo de criação do novo álbum de vocês?

Ivan Busic: Foi bem legal e tranqüilo. Cada um trazia uns riffs e idéias melódicas. Muitas musicas já vinham parecendo prontas e outras davam espaço para idéias gerais. Temos um entrosamento muito bom. Somos muito fãs um do outro e isso facilita. Quando pinta algo que alguém não gosta é engraçado, finge que não ouviu e muda de assunto e pulamos para a próxima idéia. Agora que temos estúdio próprio tudo ficou mais fácil e mais à vontade. O que não significa perder tempo. Foi mais uma produção do Andria .

UR: É inevitável notar a influência do Black Sabbath nesse disco. Músicas como “Lady Lust” e “Train of Pain” trazem riffs dignos de Tony Iommi. Essa “manifestação” foi proposital devido ao falecimento do Dio? Ou ocorreu naturalmente mesmo?

Ivan Busic: Na realidade, eu sempre componho alguns riffs na guitarra, mas não me atrevo a tocar num palco. Tanto eu como os outros, somos fãs de Sabbath e eu adoro compor riffs pesados para temas pesados e é quase impossível se criar um que não lembre o mestre Tony. Na verdade, eu componho muitas musicas de muitos estilos, mas adoro compor riffs pesados. Comprei ate uma Gibson SG. Engraçado que comprei depois de compor essas musicas. Não teve nada a ver com a morte do Dio, mas ele é sem duvida a eterna influencia e inspiração para nós. Essas duas musicas foram compostas por mim. O Andria e o Edu gostaram e aí gravamos. Obviamente com eles tocando, soa milhões de vezes melhor do que quando eu toco na guitarra (risos).

UR: Falando no Dio, o Dr. Sin também fez sua homenagem com “The King”. A idéia de usar frases marcantes da carreira dele foi bem original. Vocês eram muito fãs do baixinho?

Ivan Busic: Muito fãs é pouco (risos). Já tivemos a chance de tocar no mesmo palco, no mesmo festival que ele. Um fato que marcou muito, foi quando ele veio nos cumprimentar no nosso camarim após nossa apresentação. Quase tivemos um derrame (risos). Conversamos muito com ele e ele foi exatamente o que todos sabem, um gentleman. Eu particularmente acho que o Andria detonou na interpretação da The King, aliás ele esta cantando cada vez mais .Quanto aos detalhes marcantes eu também achei demais. Um teclado que lembra “Rainbow in the Dark”, riff a la “Caught in the Middle”, solo com pegada Vivian Campbell, etc. O refrão diz tudo. “He is the King”.

UR: As influências de Rush talvez sejam mais evidentes ainda. Principalmente nas últimas faixas do CD.

Ivan Busic: Eu sempre digo a mesma frase. Rush faz bem pra saúde. É sem duvida uma de nossas maiores influencias. Não há como escapar de esbarrar em coisas que lembrem seu estilo. Fizemos escola e faculdade do Rush (risos).

UR: A letra de uma música específica, “Train of Pain”, me chamou bastante atenção. Qual foi a inspiração pra ela? Aparentemente a letra narra a história de alguém que morrera e está indo pro inferno… É isso mesmo?

Ivan Busic: Sim. É exatamente isso. A carapuça vai servir para muitos políticos , criminosos , advogados sem honra, falsos pastores e outros.

UR: Noutro lado, eu senti uma pegada bem Deep Purple na música “Faster than a Bullet”. O Hammond pegou muito bem no som da banda!

Ivan Busic: Não tem como se usar um hammond e não lembrar do Purple embora essa musica tenha o espírito setentista que pode mesmo nos lembrar Purple pela atmosfera e tipos de riffs e melodia.

UR: Falando em Hammond, a pareceria com o tecladista Rodrigo Simão é sempre muito positiva. Vocês até estenderam a parceria tocando no álbum solo dele, “Air”, que será lançado em 2012. O Dr. SIn já pensou em firmar um tecladista?

Ivan Busic: O CD solo dele é na minha opinião uma obra prima do rock progressivo. Por enquanto a atmosfera do DR.SIN ainda não pede um tecladista. Os teclados são ainda muito sutis no nosso trabalho. Esse trabalho solo do Rodrigo teve a produção do Andria também. Ele é um grande músico e irmão. Merece reconhecimento mundial, na minha opinião.

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UR: Quanto à parte de divulgação do “Animal”, vocês pretendem repetir a estratégia do “Bravo” e disponibilizar a versão econômica do álbum, em capa de papel? Eu imagino que o resultado foi bastante positivo…

Ivan Busic: Foi muito positivo, mas isso não é parte da maneira que a Laser Company trabalha. Respeitamos isso. Me parece que o Animal esta indo muito bem.

UR: Mas as homenagens não pararam por aí. Dez anos após o fatídico 11 de setembro o heroísmo dos bombeiros foi lembrado pela banda. Acho que foi o acontecimento mais marcante deste Séc. XXI…

Ivan Busic: Com certeza é um dos momentos mais repugnantes na história do ser humano e isso marcou nossas vidas. Os bombeiros são heróis e merecem ser lembrados. A música “Heroes” veio com toda a intensidade rítmica e melódica para se falar do assunto. A música tem um clima que se encaixa perfeitamente com a letra. É uma faixa bem Heavy Metal assim como a vida de um Bombeiro.

UR: A última homenagem, e talvez a mais inusitada, foi ao “Star Wars”, com a música “May the Force be With You”. Eu vejo que ela vem causando um impacto bem positivo na divulgação no Animal. E já até rendeu um novo clipe pra banda.

Ivan Busic: É engraçado. Parece ate que fizemos um cd de homenagens (risos). Não tinha percebido. Mas são assuntos que realmente formaram o conceito de tudo que queríamos dizer nesse trabalho. A musica veio por último, quando o CD já estava todo gravado. Acabou sendo a primeira a ter um clipe por termos amizade com a galera dos fã-clubes. Um clipe bem a vontade, feito num clima de ensaio e gravação com alguns dos personagens da Saga. Somos fanáticos pelos filmes e tem sido incrível a repercussão. Sempre fez parte das nossas vidas e agora mais ainda.

UR: No ano passado, e em janeiro desse ano vocês fizeram shows ao lado da Orquestra Municipal de São Paulo, sob regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa. Shows estes muito aclamados por sinal, “sold out”. Como surgiu esse convite? E há chance de haverem mais shows do “Rock Sinfônico”?

Ivan Busic: Sim. Momentos mais que emocionantes. Fizemos duas vezes na sala São Paulo e uma como show de fechamento do festival de inverno de Campos do Jordão. Fica difícil colocar em palavras a honra de se trabalhar com os maestros e orquestra e a emoção que se sente ao tocar alguns dos maiores clássicos do Rock nessa roupagem. Tocar a musica Miracles do Dr. Sin na Sala São Paulo também foi glorioso. Posso dizer que foi e tem sido sucesso absoluto de público e algo muito lindo para aproximar pessoas com gostos diferentes e que no final acabam por conhecer o outro lado e admirar.

UR: Em 2009 vocês relançaram o primeiro disco de vocês, o Dr. Sin I (1993). O que motivou a banda a este relançamento?

Ivan Busic: A Warner não mantém o CD no catálogo e os fãs sentem muita falta, principalmente os novos fãs, de ter a coleção completa. Regravamos o mais parecido possível ate mesmo na sonoridade e por mais que a Warner volte a colocar no mercado o primeiro, por enquanto temos algo para os fãs , o Original Sin que vem ainda com duas musicas bônus.

UR: Eu me recordo de vocês comentarem algo sobre um projeto de música progressiva com o Mike Vescera na época do lançamento do “Bravo”. Como seria esse projeto? E, algum dia ele será colocado em prática?

Ivan Busic: Ainda não sabemos como será. Mas que será, será (risos). Tomara que logo. As agendas de todos são muito complicadas, mas agora que estamos com nosso estúdio fica um pouco mais fácil.

UR: Na década de 90, as coisas aconteceram muito rápidas em favor do Dr. Sin. Foram muitos shows importantes, destaque na grande mídia. Parece que havia mais oportunidades naquela época, não? Hoje, ao contrário, os shows internacionais acabam por colocar as bandas nacionais no limbo… Qual a opinião de vocês sobre a cena do Rock no Brasil?

Ivan Busic: Acho que você disse tudo. Lembro que na década de 90, os shows eram grandiosos e as bandas de abertura tinham grande destaque . Foi muito bom para que pudéssemos construir as fundações da banda e consolidar o nome do Dr. Sin. Aberturas de shows e grandes festivais foram um grande marco para que o Dr. Sin ficasse conhecido e respeitado. Passamos por aberturas de AC/DC, Pantera, Ian Gillan, Malmsteen, Satriani, Steve vai, Bom Jovi, etc. Além de grandes festivais como Hollywood Rock, M2000, Skol Rock, entre outros. Acho que o Rock no Brasil existe e com muita força, mas infelizmente os grandes talentos e nomes não desfilam na mídia. Certas coisas não mudam, mas o isso fortalece quem faz Rock com o coração e não visando algo passageiro em busca da fama custe o que custar. Sinceramente, procuramos não olhar muito para a politicagem toda. Tocamos porque é o que amamos e isso é o que nos faz feliz independente de tudo. Musica acima de tudo.

UR: Finalizando. O Dr. Sin já possui praticamente vinte anos de carreira e dez trabalhos lançados. Vocês vivem literalmente da música, do Rock ‘n’ Roll e da banda. A pergunta é: todos estes anos de dedicação valeram a pena?

Ivan Busic: Há muitos anos vivemos de Dr. Sin e obviamente de tudo que está agregado a nossa carreira no Dr. Sin e trabalhos com outras bandas no passado. A banda sempre foi o principal, mas existem também muitas outras atividades como gravações, produções, workshops, aulas e etc., que fazem parte da nossa vida. É impossível não se fazer varias atividades paralelas, pois são muitas as oportunidades e convites. Sempre vivemos de musica desde que me conheço por gente. No começo, foram muitos anos na estrada com nosso pai, dezenas de outras bandas, mas há quase vinte anos o Dr. Sin é nossa vida e nosso trabalho. Os frutos são resultado de algo que fazemos realmente de coração. A banda esta mais forte do que nunca e no auge tanto ao vivo quanto com o lançamento do Animal. Obrigado pela entrevista e grande abraço.

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