Whitesnake encerra turnê sul-americana com show imponente no Rio

Por: Danielle Barbosa
Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock
Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock

David Coverdale presenteou o público com o melhor dos 38 anos de sucessos da banda.

“The Greatest Hits” Tour. Nenhum nome seria mais adequado para a proposta da turnê atual do Whitesnake. A banda, criada por David Coverdale em 1978, já veio ao Brasil algumas outras vezes – a última havia sido em 2013, ao lado do Aerosmith – e sempre rendeu boa bilheteria, além de criar grande expectativa nos fãs com relação ao que seria apresentado.

É bem verdade que após quase quatro décadas de hits lançados, 12 álbuns de estúdio (e mais 8 ao vivo), fica difícil surpreender e fugir do “previsível”. Mas isso não é necessariamente ruim. Pois, se os setlists não se modificaram em nada nas sete apresentações que aconteceram nessa passagem do grupo britânico pelo Brasil – em Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro –, a empolgação e adesão do público aos shows foi o bastante para deixar claro o quanto o som lendário dos roqueiros ainda tem força.

No Rio de Janeiro, a data escolhida gerou certo receio por um fator principal: se tratava de um domingo (02/10) de eleições municipais com um show marcado para as 20h. E, para piorar o cenário, o clima era chuvoso e frio – o que costuma afastar os cariocas das ruas. Por esses motivos, não seria nenhum espanto se a casa ficasse mais vazia do que o programado inicialmente. No entanto, a surpresa foi positiva para alegria de todos: o Metropolitan quase atingiu sua capacidade máxima de público, cerca de 8.000 pessoas. Mas vale ressaltar que muitos chegaram às pressas e quase na hora do show começar, o que muito explica o ‘temor’ pelo comparecimento do público no início deste parágrafo.

Ao caminhar pelo local no pré-show, o que vi foi uma reunião de gerações se divertindo juntos* – avôs, pais, filhos, irmãos, amigos… Se a diferença de idade distancia essas pessoas em muitos aspectos, a paixão pelo rock as une. Pois, afinal, rock de verdade é isso: longevo e sem preconceitos.

Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock
Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock

*Uma das ações da produção do show foi um stand montado pela Sky, no qual os fãs poderiam “se montar” como os artistas – com perucas estilosas imitando a “cabeleira” dos músicos, chapéus, jaquetas de couro, dentre outros itens – e levar uma foto impressa de recordação. Não precisa nem dizer que a ação foi um grande sucesso, né?

O SHOW:
Com 15 minutos de atraso, a clássica “My Generation”, do The Who, deu o pontapé inicial da apresentação e introduziu David Coverdale e seus companheiros à plateia. Os músicos subiram ao palco do Metropolitan com a agitada e impetuosa “Bad Boys”, e foram acompanhados por um coro de vozes dos versos ao refrão, o que provava que a noite era promissora. “Slide It In” e “Love Ain’t No Stranger”, na sequência, confirmaram isso. “Make some fuc*ing noise”, pedia o frontman a todo instante, sendo prontamente atendido.

Coverdale, que vestia uma camisa branca com a logo do Whitesnake no meio e um desenho em referência à bandeira do Brasil, abusou da performance com “a cara” dos anos 80 sem perder o pique no auge dos seus quase 40 anos de estrada. O frontman e fundador do Whitesnake é, sem dúvidas, a figura central da banda. Ele arriscou um português embolado com algumas frases de praxe, como “Tudo bem?” e “Obrigado”, puxou palmas, trocou de figurino por duas vezes, distribuiu sorrisos e orquestrou coros de “oooh” durante todo show. Sua voz, é claro, não é a mesma de outrora. O cantor de 65 anos tem um timbre de impor respeito e sempre fez bom uso de suas cordas vocais nas canções com uma pegada hard rock/heavy metal do Deep Purple – em meados de 1970 – e do Whitesnake – a partir da década de 80.

Entretanto, alguns anos se passaram e é natural que o vocalista inglês não tenha a mesma potência na voz. Mas nada que tenha prejudicado o show ou possa diminuir o que David Coverdale representa pra música, já que o rockstar é um dos poucos de sua geração que mantém a mesma entrega, disposição e atitude frente a grandes públicos. Não é a toa que o Whitesnake vem há anos arrastando multidões por onde passa.

De volta ao show, as músicas que vieram na sequência fizeram um flashback na cabeça dos fãs mais antigos do grupo. “The Deeper the Love” e “Judgement Day”, ambas do álbum “Slip of the Tongue” (1989), “Fool for Loving”, do disco “Ready an’ Willing” (1980), “Ain’t No Love in the Heart of the City” – do trabalho de estreia da banda, “Trouble” (1978), “Slow and Easy”, do “Slide It In” (1984) e “Crying in the Rain”, “Saints and Sinners” (1982) fizeram um passeio pela carreira de sucessos da banda e contextualizaram o que era o hard rock oitentista, época de um visual bem extravagante e sonoridade bem definida: agudos marcantes e uma infinidade de riffs.

Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock
Foto: Ana Clara Carvalho/Universodorock

Por falar em solos, os guitarristas Reb Bech e Joel Hoekstra – um fato curioso é que esta foi a primeira vez que o americano Hoekstra, ex-Night Ranger, veio ao Brasil –, o baixista Michael Devin e o baterista Tommy Aldridge tiveram o seu momento exclusivo para brilhar. Bastante animados, eles chamaram a audiência pra participar do que estava acontecendo no palco, com elementos sonoros e expressões corporais que atraíram a atenção dos fãs. O mais impressionante, talvez, tenha sido quando Aldridge se desfez de suas baquetas e começou a “solar” com as mãos, contagiando a todos os presentes. O músico saiu de cena ovacionado. Incrível!

Enquanto isso, Coverdale descansava para o ‘sprint’ final. No retorno à ação, trajando uma camisa preta com a frase “make some fucking noise” na parte de trás, o músico embalou os casais com os megahits “Is This Love” e “Give Me All Your Love”. Sabendo de que os singles mencionados eram dois dos mais populares da banda, o inglês foi esperto e jogou para o público cantar trechos das canções por diversas vezes, seguido da expressão “todos”, em bom português.

“Não tem uma música ruim, impressionante!”, ouvi um rapaz dizer enquanto abraçava a namorada. A conversa dos dois foi interrompida porque o Whitesnake logo emendou com “Here I Go Again”, para encerrar a primeira parte da setlist antes do bis com os termômetros de entusiasmo lá no alto.

“Vocês querem fazer barulho?”, perguntou Coverdale e foi respondido com gritos histéricos. Não satisfeito, perguntou novamente: “Vocês querem fazer barulho mesmo?”, insistiu, pouco antes de voltar para o bis com as excelentes “Still of the Night” e “Burn” em versão adaptada (cover do Deep Purple), da época que David Coverdale ainda fazia parte da banda. Entre os riffs pesados das músicas e o “bate-cabeça” da audiência, o cantor fazia sinais para que o público se agitasse e participasse mais. As pessoas, por sua vez, aproveitaram os últimos minutos para curtir o curto – porém intenso – show do Whitesnake.

“Muito obrigado, Rio!”, se despediu o cantor fazendo um coração com as mãos e levantando a bandeira do Brasil que recebera de um fã em “Judgemente Day” com um sorriso estampado. No rosto das pessoas, satisfação, mais uma vez comprovando que não só de músicas inéditas ou de script surpreendente se faz uma boa apresentação de rock.

Se depender dos fãs fieis do Whitesnake, a banda sempre terá seu espaço e será lembrada e cultuada como uma das mais influentes no rock. Sendo assim, a “The Greatest Hits” Tour no Brasil foi um sucesso. Agora, a turnê partirá para o Japão, onde tem shows marcados a partir da próxima semana.

O rock está vivo.
Vida longa ao rock ‘n roll!

Setlist
My Generation (The Who cover)
Bad Boys
Slide It In
Love Ain’t No Stranger
The Deeper the Love
Fool for Your Loving
Ain’t No Love in the Heart of the City
Judgement Day
Guitar Solo (Reb Beach/Joel Hoekstra)
Slow an’ Easy
Bass Solo (Michael Devin)
Crying in the Rain
Drum Solo (Tommy Aldridge)
Is This Love
Give Me All Your Love
Here I Go Again
BIS:
Still of the Night
Burn (Deep Purple cover)


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