Habilidade e grandiosidade de Joe Satriani em show no Espaço das Américas

Por: Juliane Assis
Foto: Marcelo Brammer

Depois de uma tarde chuvosa na capital, a noite chegou clara, com uma lua grande. A zona oeste recebeu nesta última quarta-feira (7) o magnânimo guitarrista Joe Satriani. A turnê em comemoração aos trinta anos de carreira do músico apresentou seu 15º disco, o “Shockwave Supernova”.

Em sua 8ª passagem pelo país, Satriani leva desde os fãs maduros e fiéis aos mais novos à loucura; tapping, solos com a língua, músicas clássicas, músicas novas, ligados e two-hands, entre outros, que explodem o cérebro de qualquer um. Com a casa relativamente cheia, o show contou com um mar de impulsos com os pés, mãos levantadas, gritos, e brilhos nos olhos; ninguém conseguiu ficar sentado.

O artista, que dispensou qualquer tipo de banda de abertura, entrou no palco às 21horas e 11 minutos, acompanhado por Mike Keneally (guitarra e teclado), Bryan Beller (baixo) e Marco Minnemann (bateria). A música que leva o mesmo nome do seu último disco “Shockwave Supernova” abriu o show. Com um vídeo psicodélico ao fundo e com cores em tons fortes, a imersão foi total, era possível ver o brilho nos olhos de todos. A música, que demonstra a maestria do guitarrista, contava com o apoio da bateria, baixo e teclado que em conjunto possuíam uma força própria.

Em seguida, “Flying in a Blue Dream” veio para representar o contraste. A música, que não era tão pauleira quanto sua anterior, mostrava a habilidade em meio ao clima nostálgico do artista, que levantava as mãos e interagia com o público com caras e bocas, já que seu visual característico de sobriedade acoplado aos óculos escuros era bem indecifrável. Todos vão à loucura na introdução, depois se calam para alguns minutos de essencial apreciação; em seguida, a música continua calma junto a um teclado nas mesmas escalas.

“Ice 9” trouxe a pauleira de volta, com batidas fortes de bateria e guitarra distorcida que ao fundo coincidem com um baixo rústico, juntamente com o som de centenas de palmas, requisitadas por Joe enquanto abusa de solos estilo tapping. Logo em seguida, Mike Keneally larga o teclado e pega a guitarra para um dueto monstruoso com Joe. Eles parecem se envolver numa baralha de solos intermináveis que infelizmente têm um fim, mas um fim magnífico, e assim o show segue.

Foto: Marcelo Brammer

Então, Joe pega o microfone e agradece a todos, com singelas palavras de “We love you” (Nós amamos vocês), e comenta ser a primeira vez que eles estão tocando no Espaço das Américas e que o lugar é lindo. Ele aproveita para introduzir os membros da banda que são muito bem recebidos e então toca “Crystal Planet” pedindo palmas e gritos. Também interage e brinca com o público, usa técnicas de tapping e até solos com a língua, no estilo do seu maior ídolo, Jimi Hendrix, grandiosamente executados por Joe, junto de um teclado com um fundo místico. O guitarrista termina a música sentindo cada nota e dançando conforme os acordes junto a sua guitarra branca de monstrinhos verdes.

“On Peregrine Wings” é uma música que mistura vários tipos de técnicas da guitarra e, em alguns momentos, possui uma estranha semelhança com a música nordestina brasileira por utilizar recursos como o prato da bateria e a escala aguda do teclado, que imita um som semelhante ao do Baião e a da música marroquina, mas com a característica hard do artista, muito bem efetuada. Joe novamente pega o microfone e fala que todos ali são amigos dele e que gostaria de desejar a próxima música, “Friends” a todos os seus amigos. A composição nostálgica de 1992 é muitíssimo bem executada junto a imagens no telão de “amigos”, conjunto que tirou emoções de todos.

O baixista, Bryan Beller, bate palmas e pede que o público o acompanhe na batida da bateria, enquanto os outros instrumentos entram e a “If I Could Fly” se forma. No final, Joe e Mike tocam guitarra com apenas uma mão e fazem um improviso de habilidades eternas em um dueto. Já na música “Butterfly and Zebra”, o clima muda totalmente e o guitarrista norte-americano a introduz como uma “Love Song” (música de amor), com um teclado compassado e guitarra em escala simples casado com as imagens de florestas românticas que passavam no telão, assemelhando-se a uma música melódica que voa a transpassa os sentimentos e ouvidos de todos ali presentes.

“Cataclysmic” demonstra bem a frase dita por Joe Satriani em entrevista para o portal UOL acerca de conselhos para jovens guitarristas: “Toque cada nota como se fosse única”. O virtuoso guitarrista, que já foi professor de gênios como Steve Vai e Kirk Hammet, mostra que suas habilidades monstruosas não são brincadeira. Logo em “Summer Song”, música do álbum “The Extremist”, a animação foi contagiante: os fãs reconheceram o clássico e já puxaram gritos e cantos de coro acompanhando a melodia.

Baquetas batendo uma na outra e som do prato com batidas rasteiras e certeiras, o solo de bateria do Marco Minnemann havia começado. Ficar de boca aberta foi pouco, todos ali presenciaram uma belíssima demonstração de habilidade, carisma e bom humor. Até uma falha técnica, que poderia atrapalhar, tornou tudo mais divertido, o prato que ele estava magnificamente tocando caiu, então um técnico pegou, porém o prato voltou a cair foi aí então que Marco pegou o prato com uma mão – mas não parou o solo, continuou tocando com apenas uma mão – então jogou o prato no palco, e quem apareceu? Sim, o Joe Satriani, com sua simpatia e sua garrafinha de água na mão, segurou o prato para que o baterista pudesse tocá-lo, entretanto saiu do palco alguns minutos depois levando parte do instrumento junto a si. O solo contou com a participação do público em diversas ocasiões e encantou a todos.

Foto: Marcelo Brammer

Logo após, os músicos voltaram para arrasar tocando “Crazy Joey” com a linha do baixo forte, seguida de teclado e palmas; a guitarra estrondosa aparece de vez em quando para impressionar a todos. Agora, o pequeno solo de teclado de Mike arrasou corações e tirou vários coros em “AHHHHs” da galera que tornou tudo mais mágico. Em “Luminous Flesh Giants”, o clima se modifica e ao fundo um órgão da o rumo aos solos maravilhosos de Joe que abusa da guitarra distorcida.

“Always With Me, Always With You” começa com um coro de “OOOHHs” e com o público já esquecendo das cadeiras. O solo, que parecia mais um hino nacional, foi magistramente executado junto a uma batida forte no bumbo. A explosão de sentimentos que foi proporcionada ao público com o solo de baixo acoplado ao medley de Deep Purple, AC/DC e Jimi Hendrix foi incrível, era perceptível a alegria de todos ali que cantavam junto e gritavam.

O show já ia se encaminhando para o final quando Joe nos surpreende mais uma vez com a “Crowd Chant” que fez todos cantarem junto o tempo todo, vários “Heys” e “Ohhhhs” interagindo com a música e com a banda. O progressivo de “Satch Boogie” conquistou a todos que desejavam que o momento durasse infinitamente. E durou por alguns segundos, os agudos da guitarra parecem que param no tempo e nos levam a uma total imersão. O músico agradece ao final e apresenta novamente os integrantes da banda, que retribuem apresentando “The Maestro” Joseph Satriani.

O show parecia ter chegado ao fim, mas o público não queria que aquele momento acabasse. O chão de assoalho do Espaço das Américas ficou fraco para tantos pés que batiam em sincronia, e suas paredes ficaram tímidas com tantas vozes gritando para a banda voltar. Após alguns minutos de agonia e incerteza, eles voltaram para fechar com chave de ouro ao tocar “Big Bad Moon” clássico de 1989 onde o guitarrista canta com seu vozeirão misterioso e ainda toca gaita.

O magnífico concerto se aproximava de seu fim quando outro clássico “Surfing With the Alien” foi tocado, mas os músicos pareciam felizes com sorrisos de orelha a orelha e o público também. A banda encerra a última música e se junta num sinal de cumplicidade e amor ao público que bate palmas e agradece pelo show impecável.

Tracklist:

1.    Shockwave Supernova
2.    Flying in a Blue Dream
3.    Ice 9
4.    Crystal Planet
5.    On Peregrine Wings
6.    Friends
7.    If I Could Fly
8.    Butterfly and Zebra
9.    Cataclysmic
10.    Summer Song
11.    Drum Solo (Marco Minnemann)
12.    Crazy Joey
13.    Keyboard Solo (Mike Keneally)
14.    Luminous Flesh Giants
15.    Always With Me, Always With You
16.    Bass Solo (Bryan Beller)+ Rock Medley (Deep Purple, AC/DC, Jimi Hendrix)
17.    Crowd Chant
18.    Satch Boogie
Bis:
19.    Big Bad Moon
20.    Surfing With the Alien


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