Entrevista com Timo Tolkki, ex-guitarrista do Stratovarius

Por: Michelle Gonçalves

Rumo à independência musical, Timo Tolkki busca apoio dos fãs para lançar álbum solo. “Não posso escrever Black Diamonds pra sempre”, desabafa.

foto/divulgação
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Em entrevista exclusiva, o ex-guitarrista do Stratovarius fala sobre o projeto Classical Variations 2: Credo, uma promessa de música aos fãs, que podem transformá-la em realidade através do site Pledge Music. Tolkki ainda revela sua opinião sobre a indústria da música. “Gravadoras existem por uma e somente uma razão: fazer dinheiro”, declara. “Eles não conseguem enxergar as oportunidades que a internet oferece”.

Entrevista:

01. Atualmente você está trabalhando em seu 4º álbum solo, o duplo Classical Variations 2: Credo. Fale um pouco sobre o direcionamento musical dele. Você disse que é o mais interessante da sua carreira. O que o torna tão excitante?

Timo: Acho que na verdade disse que é o mais importante da minha carreira. Eu sinto isso. Sou uma pessoa muito emotiva. Às vezes emotiva demais para as pessoas suportarem e, por isso, eu acabo arrumando problemas.

Tenho um conceito vago sobre este álbum chamado Classical Variations 2: Credo, que conta com dois CDs, chamados Lyra e Vega. Estava sem escrever desde as músicas do Symfonia, compostas no verão de 2010, então há muito em mim. Tenho meio que me isolado, como sempre faço quando estou compondo. Acho que esse álbum vai ver algo da música mais bela que já criei. O cd Lyra deve ser mais suave e Vega mais pesado.
Além disso, não penso muito em um direcionamento musical ou coisa do tipo. Tudo comigo em relação a música é muito natural e orgânico. Muito baseado em emoções.

02. Este álbum é baseado em uma forma totalmente independente de lançar música, sem nenhum controle de gravadora ou selo. Você conta apenas com o apoio de seus fãs para financiá-lo através do site Pledge Music. Conte sobre esse projeto. Como funciona?

Timo: Bom, esta maneira não é nova, mas acho que sou o primeiro do gênero Metal a fazer isso. Eu amo a liberdade absoluta que há nisso. Amo poder controlar todos os aspectos da minha arte sem nenhum chefe de gravadora buzinando no meu ouvido que deve existir outra Black Diamond. Eu sou um compositor e minha música deve evoluir. Eu não posso escrever Black Diamonds pra sempre.

Basicamente, neste projeto os fãs se tornam a gravadora. Eles podem ir ao site PledgeMusic e ver todos os itens que tenho lá, que eles podem comprar. Assim, se o projeto atingir sua meta de 100%, ele pode realmente acontecer. Caso contrário, o dinheiro é devolvido. A renda gerada é completamente usada para gravar, mixar e para custos na manufatura. Então, de alguma forma, é como liderar uma gravadora híbrida com os seus maiores fãs. A parte mais importante de todo o sistema é a vontade de apoiar minha música e a sua continuidade. Porque sem isso, ela não pode sobreviver. Pra mim chega de indústria e gravadoras. Mas adoraria fazer tantas coisas na música e, quando vocês verem os itens exclusivos na minha página PledgeMusic e talvez entendam porque é uma forma tão legal de se fazer música.

03. Se você atingir a meta – e espero que atinja – quando o álbum sai?

Timo: Outubro deste ano.

tt104. Como tem sido as reações dos fãs em relação a prometer música?

Timo: Eu diria que misturada. Alguns não entendem o sistema, o que é natural, porque é novo para eles. Nós tentamos fazer este processo o mais simples possível. A ideia principal é comprar com antecedência e apoiar o artista ao mesmo tempo. Algo que os fãs fazem de qualquer forma, mas através de gravadoras gananciosas. Algumas pessoas acham estranho comprar itens que eles ainda não escutaram, mas, realmente a essência nisto é apoiar o artista. Eu não estou mirando as estrelas, mas sei que tenho os meus grandes fãs que gostariam de ouvir o que ainda tenho a dizer na música.

05. Vários itens especiais também podem ser adquiridos, como sua guitarra (usada nas gravações do Symfonia) e um diário escrito à mão. O que estes itens significam pra você?

Timo: Bom, eles são apenas itens. A guitarra já foi prometida. Acho que vou voltar às Stratocasters. O diário é uma coisa que eu mantenho atualizado diariamente sobre este projeto. É na verdade uma coisa bem legal.

06. Você convidou ótimos vocalistas para participar do Classicial Variations 2: Credo. Michele Luppi, Mike Vescera e Michael Kiske vão cantar neste álbum. Também sabemos que Tuomo Lassila, que fundou o Stratovarius, será o baterista. Há mais anúncios em vista? Você pode revelar algo mais em relação a convidados?

Timo: Bem, eu realmente espero que uma cantora da Europa central possa participar. Eu não quero ter muitos convidados. Este é, afinal, meu álbum solo.

07. Você tem composto material por mais de um ano. Existe algum conceito surgindo em termos de letra?

Timo: Parece que sim. Muito tem a ver com acreditar em algo. Este é o significado absoluto de Credo.

08. Como você vê a cena heavy metal atual em termos de criatividade e originalidade? Alguma banda chama a sua atenção?

Timo: Tenho que ser bem verdadeiro quanto a isto. Eu não entendo a parte de urrar e a agressividade. Entendo e até aprecio como um canal de expressão. Mas, musicalmente, eu não gosto tanto. Geralmente não ouço nada além da rádio na minha cabeça. Eu acho que quando se chega à minha idade, você tende a ser a sua maior influência. Não vejo originalidade na cena Metal. Esse é, na verdade, o problema da indústria da música. Uma banda fica famosa e aí 200.000 bandas a copiam. Como compositor, eu tenho que seguir minha voz interior e expressar a voz da minha alma. Não copiar alguém.

09. Quais foram os maiores problemas que você teve que enfrentar na sua carreira ao lidar com gravadoras? Quais são as maiores vantagens que tem experimentado ao trabalhar como artista solo?

Timo: Eu ainda não tive vantagens porque basicamente deixei a indústria há 6 meses e depois encontrei esse sistema de financiamento coletivo e o PledgeMusic. A ideia é bonita e eu espero que as pessoas entendam o quanto. É uma interação direta entre fãs e artista. Gravadoras existem por uma e somente uma razão: fazer dinheiro. Todo mundo coloca em jovens que baixam os CDs a culpa pela queda nas vendas (52% em 10 anos). Mas, na minha opinião, a causa é a ambição da indústria. Eles não conseguem enxergar as oportunidades que a internet oferece. Toda música vai estar na internet no futuro, de qualquer forma. Dinheiro é sempre problema com as gravadoras. Você tem que brigar por tudo.

10. Que conselhos você pode dar para músicos que estão iniciando suas carreiras? Sendo novos no negócio, eles devem seguir pelo caminho da indústria da música em busca de apoio? Ou seria melhor procurar por um caminho independente desde o início?

Timo: Esta é uma pergunta muito muito difícil e eu estou pensando muito sobre. Vocês sabem que eu tive um seminário sobre música chamado “Music Beyond Infinity” no Brasil há 2 anos, quando fui a 18 cidades. Entre elas, Juazeiro do Norte e Belém. Estou pensando em fazer um novo seminário destinado a novas bandas e músicos para dar conselhos a eles.

11. Muito obrigada por falar conosco, Timo. Deixe uma mensagem aos fãs brasileiros e leitores do Universo do Rock!

Timo: O prazer é meu, de verdade. Gostaria de convidar meus fãs nesta jornada que podemos dividir. É basicamente uma mensagem de amor. E eu ainda acredito que a chave para o universo é o amor. Desejo a vocês boa sorte, felicidade, amor e saúde. Que a paz esteja com vocês. Espero vê-los em breve e, Michelle, obrigado por realizar esta entrevista.

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