Entrevista com Nuno Bettencourt, guitarrista do Extreme

Por: Adriana Camargo/Tradução: Adriana Maraviglia
Colaboração: Giu Furlan e Valéria Maraviglia

Um dos grupos de hard rock que fez muito sucesso nos anos 90 foi o Extreme. Eles foram levados para os primeiros lugares das paradas de sucesso de diversos países com a balada “More than Words”, interpretada pelo cantor Gary Cherone e pelo guitarrista Nuno Bettencourt. Em 1992, o Extreme se apresentou uma única vez no Brasil no festival Hollywood Rock. Há 20 anos que eles não retornam ao Brasil, mas Nuno Bettencourt fez uma passagem por aqui no final de setembro, para se apresentar com a cantora Rihanna no Rock In Rio, além de fazer outros shows com ela pelo Brasil. Nuno também participou da feira Expomusic a convite das empresas Proshows e Washburn para uma tarde de autógrafos, e na ocasião concedeu uma entrevista para a equipe do Universo do Rock. Confiram!

Nuno_byAdrianaCamargo1. Atualmente você está tocando na “Loud Tour” da cantora Rihanna, como tem sido essa experiência, inclusive nos shows do Brasil? Você já tinha participado também da turnê anterior dela, a “Last Girl On Earth Tour”. Afinal, ela toca um estilo de som bem diferente do que você faz no Extreme.

Nuno: Eu nunca tinha tocado com nenhum outro artista a não ser com o Extreme, mas já havia sido convidado por outras pessoas, mas sempre disse não, porque preferia tocar meu próprio material. Mas com a Rihanna, o que aconteceu foi que um amigo meu trabalhava com ela e mostrou-lhe uma porção de vídeos meus, tocando guitarra e ela me ligou dizendo que estava interessada em trabalhar comigo, talvez para a turnê. E ele me disse, antes que você diga não, acho que você deveria perguntar por que não tem nada de guitarra no material dela e esse é o porquê.
Seria interessante, ao invés de eu tocar o pop e R&B dela, trazer meu estilo, que é o que eu faço quando tocamos ao vivo. E basicamente, eu posso ser quem eu sou, tocar hard rock e fazer meus solos de guitarra. Então eu achei que seria muito interessante, porque era uma coisa que eu nunca tinha feito antes. E eu sempre achei que a Rihanna era uma pessoa legal, ela é diferente de todas as outras e não tem aquele estilo Britney Spears de pop star, é bem mais legal.

Então aceitei o convite. Era para eu ficar com ela apenas por três meses e também aceitei por isso. Mas é difícil dizer não para a Rihanna quando ela te quer por perto. Mas está sendo ótimo, ela é maravilhosa e tem sido uma grande experiência e ao mesmo tempo, foi muito bom para mim alcançar um novo público, mais jovem e mais pop. E eu acho que para eles também é algo diferente ver um guitarrista que faz solos. Foi uma grande experiência, sabe.

2. Qual a sua expectativa para o show de amanhã (23/09) com a cantora Rihanna no Rock in Rio, que é um dos maiores festivais de música do mundo? Afinal, vocês tocarão no mesmo palco que a Katy Perry e o Elton John.

Nuno: É muito difícil dizer Elton John e Katy Perry na mesma frase. Porque a Kate Perry é muito melhor do que o Elton John (risos). Eu quero dizer, os dois são mulheres, mas… (risos) Elton John é uma lenda e eu adoro! Ele é o único artista do sexo masculino que já me beijou na boca, por sinal. Nós fizemos o show de Tributo ao Freddie Mercury e quando saímos do palco, ele estava lá, assistindo e me beijou e eu pensei: – Uau! O Elton John me beijou! Foi ótimo!

Estou feliz de estar no mesmo palco, de ver todos os outros shows também. Mas o Elton John é maravilhoso. Estou feliz por poder assistí-lo. Ele ia tocar depois de nós, mas agora, vai tocar antes e espero poder assistir o show inteiro dele. Não me leve a mal, a Kate Perry é fantástica também, eu estava só brincando.

3. Nuno, você já ganhou inúmeros prêmios como guitarrista (Top Of The Rock, “Songwriter of the Year, Solo of the Year, etc) durante a sua carreira. O que eles representam para você?
Como você iniciou os seus estudos musicais e quantas horas treinava por dia com a guitarra? E hoje em dia quanto tempo destina a sua prática de música?

Nuno: Antes ou depois? Antes era ridículo, eu não comia, não ía ao banheiro, não fazia mais nada. Eu tocava 10, 12 horas por dia e tentava fazer de tudo, compor, ler partitura, ouvir música, mas não tenho mais praticado guitarra.

4. Só no palco?

Nuno: Provavelmente, nos últimos 15 anos. É uma daquelas coisas, não que eu não devesse praticar, mas cada vez que pego na guitarra é para fazer uma nova música e eu não quero mais melhorar minha técnica. Eu consigo fazer aquilo que é necessário com o que já sei e, é claro, que me aqueço antes do show, mas não fico mais treinando.
– É muito mais importante ter feeling do que técnica…
– Sim, desisti das “Olimpíadas” há muito tempo…

5. Quais suas principais influências musicais?

Nuno: Minhas principais influências musicais? Eu sempre gostei dos guitarristas que estavam nas grandes bandas. Eu nunca olhei só para a guitarra, eu gosto do Brian May, porque ele estava no Queen e do Joe Perry por causa do Aerosmith, do Jimmy Page, porque ele estava em uma grande banda e do Van Halen, porque ele também estava em uma grande banda. E eu gosto porque eles compunham boas músicas e tinham grandes vocais e harmonias. Eu gosto de bandas que tinham o pacote completo e grandes guitarristas também…

6. Desde 1990 você tem uma parceria com as guitarras Washburn, e este ano na Expomusic aqui em SP está sendo lançada uma nova linha N2. Quais os principais diferenciais da N2 em comparação com a N4?

Nuno: A N4 é a guitarra que uso para tocar e a N2 é uma linha mais econômica.

7. Nuno, após 13 anos, o Extreme voltou a gravar em estúdio e resultou no álbum “Saudades de Rock”. Na sua opinião o que representa esse novo trabalho para a banda? Afinal, você também foi o produtor e quem mixou esse álbum (“Saudades de Rock”)?

Nuno: Eu controlo tudo (risos) Sempre foi assim… Eles só não colocam isso no disco, mas não é diferente do que fazíamos antes. A única diferença é que tinha que ter um produtor lá antes, mas eu continuo fazendo o que sempre fiz, só que na época eu era jovem demais para levar os créditos.

Para mim é interessante porque toda vez que uma banda faz um novo disco, eles sempre dizem: – Este é o melhor de todos! Mas neste caso, para mim, isso é verdade. Era uma das primeiras vezes em que a banda se reunia depois de muito tempo e quando isso acontece, existe algo a mais na sala, uma paixão e uma vontade real de fazer aquilo. Este não é o típico quinto disco de uma banda. Tem aquele fogo de primeiro disco. Eu gosto muito da sonoridade dele, é muito próximo do som que fazemos quando estamos ensaiando e eu queria isso, um disco cru. Para mim, é um dos meus favoritos.

8. Ter tido um sucesso tão cedo, com More than Words, atrapalhou ou ajudou?

Nuno: Deixa eu ver, numa mão sem sucesso “More Than Words” e desse lado com o sucesso “More than Words”. Com o sucesso do “More than words”, comes mais uns 20 anos, lança mais uns 3 ou 4 álbuns, fica um pouco com dinheiro, tem muito mais fans, do outro lado, já sem o sucesso tem que trabalhar no Burguer King, você vê (risos).

“More than Words” é uma benção ou maldição? Isso não faz sentido para mim porque é só uma música que escrevemos. Por que devemos nos envergonhar dela? É só uma música e a tocamos para os fãs. Nem é a música favorita deles. Existem dois tipos de fãs, aqueles que ouvem os hits e aqueles que são fãs do Extreme e esses querem ouvir tudo. Acho que é isso que importa.

9. Se quiser, deixe uma mensagem para seus fãs brasileiros

Nuno: A mensagem para os brasileiros não é bem uma mensagem, é mais um pedido de desculpas. Porque eu acho que é terrível, vergonhoso e embaraçoso que o Extreme não tenha vindo para cá nos últimos 20 anos.

Eu mesmo não acredito porque todo ano falamos sobre isso. Conversamos com nosso empresário, sempre que fazíamos uma turnê e perguntávamos para ele, por que não vamos para lá e sempre nos davam uma desculpa dizendo o quanto era difícil, financeiramente e tudo, mas acho que nós erramos porque não dissemos não, temos que ir. Mesmo que seja um clube pequeno, ou um grande. Em qualquer lugar, para continuar mantendo nosso relacionamento. Eu acho que é um dos meus maiores arrependimentos, que eu tenha que voltar aqui, 20 anos depois com a Rihanna e não com o Extreme. Então vamos mudar isso, nós voltaremos, estaremos aqui de verdade. Tentaremos voltar aqui no próximo ano.

10. Vocês planejam voltar no próximo ano?

Nuno: Sim, mesmo que seja um clube. Eu não me importo, onde for e mesmo que precisemos andar até aqui, ou vir de barco, de mula… do jeito que for, estaremos aqui!

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