Emoções em alta com The Calling no Rio

Por Marcelo Vieira

Volta da banda aos palcos marca triunfo pessoal do vocalista Alex Band e atesta que os sons da juventude são para sempre

Foto: Gustavo Maiato

No início dos anos 2000, o The Calling passou raspando no rótulo de ‘one-hit wonder’. Impulsionado pela baladaça “Wherever You Will Go”, seu disco de estreia, Camino Palmero (2001), bateu as 500 mil cópias vendidas somente nos Estados Unidos e chegou perto de um milhão em todo o mundo. Só que os singles seguintes — “Adrienne” e “Could It Be Any Harder” — e mesmo o álbum seguinte — Two (2004) —, por melhores que fossem, não conseguiram manter a peteca no ar. O vocalista Alex Band optou pela carreira solo, mas o tiro saiu pela culatra. Levaria anos até o cara sacar que o nome do grupo vende mais e melhor. Ainda assim, o The Calling seguiria numa ativa intermitente, vivendo às custas do saudosismo dos — e principalmente das — fãs e das vinte e poucas músicas que compõem o seu catálogo.

Enfim, quem estava ligado na Globo na manhã da última quinta-feira pôde ver Alex revelar o real motivo que o fez dar uma pausa na carreira. Diagnosticado com mal de Parkinson, o vocalista de 38 anos teve o que chamou de ‘uma recuperação milagrosa’, o que não apenas o permitiu voltar aos palcos em caráter permanente, mas também o fez tomar a decisão de gravar um novo álbum à frente do The Calling. E foi no Brasil, onde estampou tudo quanto é capa de revista — desde as adolescentes até as de fofoca — quase vinte anos atrás, que Band, Travis Loafman (guitarra e backing vocals), Jake Fehres (baixo e backing vocals) e Daniel TomTom (bateria) resolveram dar o pontapé inicial da nova fase.

A primeira etapa do giro de três datas marcou a estreia do The Calling nos palcos cariocas, diante de um Circo Voador meio cheio — nunca meio vazio, ok? — e com um público irritadíssimo diante do atraso de quase uma hora na qual foi submetido a um DJ que parecia não ter a menor ideia de como se usa uma controladora. A entrada dos músicos não poderia ter sido mais casual e passado mais despercebida exceto por aqueles que desembolsaram o equivalente ao valor do ingresso pelo meet & greet. A coisa muda de figura somente quando Alex, nervosismo na postura e no olhar, toma à frente e, empunhando uma belíssima Telecaster, dá partida nos motores com “One by One”.

Na sequência, veio “Adrienne” e sua letra sobre a impossibilidade de virar a página — o sortudo que nunca teve uma na vida, que atire a primeira pedra. Ao ouvir todas as centenas de presentes cantando essa e a próxima, “Our Lives”, Band entornou o ‘pote de mana’ e, tal como um ferro de passar ou um amplificador valvulado que precisa esquentar para funcionar direito, sua performance individual melhorou gradativamente e, com ela, o clima do show, cada vez mais em sintonia com o calor ‘filho da mãe’ que fazia na área coberta do Circo. Observa-se certa falta de expediente de palco em todos os quatro — coisa típica em banda não habituada a tocar ao vivo —, mas a força do repertório e a cumplicidade entre os músicos e o público suplementam qualquer defeito.

Foto: Gustavo Maiato

Como se precisássemos de algo mais que legitimasse que o The Calling é Alex mais três, um intervalo acústico solo no qual o vocalista munido agora de um violão enfileira “If Only”, “Things Will Go My Way” e “For You” — essa última meio aos trancos e barrancos, atendendo a pedidos. Com Travis e os outros de volta para o palco, uma improvisação de sabores latinos antecipa “Why Don’t You And I?”, que Band gravou com Santana no disco Shaman (2002) — o fandom que me perdoe, mas a versão com Chad Kroeger (Nickelback) nos vocais ganha de goleada.

No que se configurava ser a reta final de um show curto, porém honesto, duas que não só não fariam feio no cânone ‘bonjoviano’ como também se embriagam na fonte de Jon Bon Jovi e Richie Sambora: “Anything” parece derivar da clássica “In These Arms” enquanto “Wherever You Will Go” está para os anos 2000 como “Always” está para a década de 1990 — em ambas, o narrador deixa claro que sua amada pode fazer o que for, que ele estará sempre na cola dela. O bis veio após pagação de mico do DJ, que deu play no som como se a banda não fosse voltar, o que ocorreu em instantes para o pingo de solda derradeiro com a nova “Rain Down Love”. Agora sim, meu camarada, som na caixa para embalar a correria em busca do Uber encantado.

SETLIST THE CALLING

1 – One By One
2 – Adrienne
3 – Our Lives
4 – Could It Be Any Harder
5 – Get Up
6 – Stigmatized
7 – If Only
8 – Things Will Go My Way
9 – For You
10 – Why Don’t You and I?
11 – Anything
12 – Wherever You Will Go
BIS
13 – Rain Down Love

Confira a galeria de fotos do show:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*